quarta-feira, 6 de março de 2013

Divulgação - Ana C. Silva

 Ana Cláudia Silva participa no número dois da Fénix na dupla qualidade de artista da (belíssima) capa, como com o conto "O estranho livro sem palavras". Licenciada em Linguas e Literaturas Modernas: Inglês e Alemão, pela Universidade do Porto, escreve e desenha nos seus tempos livros. Participa desde 2008 no NaNoWrimo, sendo neste momento a Municipal Liaison nacional. Tivemos oportunidade de lhe fazer uma pequena entrevista onde ela nos falará um pouco mais dos seus projectos.

Capa de Ana C. Silva


Marcelina G. LeandroSerá que nos queres falar um pouco de ti? 

 Ana C. Silva: Se tivesse que escolher uma palavra para me definir seria "Ornitorrinco". Vagamente adorável e fofinho, mas há um elemento de estranheza que está sempre por trás. Os ornitorrincos (e eu) somos feitos de muitas partes diferentes e acabamos por ser mais que a soma delas. Além do mais, soa mais interessante que só dizer que sou 'indecisa', porque é também o que acabo por ser. Já era assim desde miúda. Ah, espera, esta era a parte onde devia falar onde nasci e que curso tenho e que faço da vida? Bom, nasci da minha mãe e do meu pai -- sabem, quando dois adultos gostam muito um do outro--ah, não era isto também? Pronto, quando tinha 1 ano, era muito cabeçuda e babava tudo que não fugisse a tempo. Aos 3 tive a minha primeira memória (que ainda mantenho) do dia antes do nascimento do meu mano. Nunca me ocorreu escrever até a 2008, mas eu e histórias sempre tivemos uma ligação muito forte: em miúda lia tudo e mais alguma coisa, aos 15 tinha mais livros que os mais pais e irmão juntos, quando entrei para a faculdade descobri os Roleplaying Games (basicamente, pessoas sentam-se à volta de uma mesa e contam histórias, usando dados e regras para introduzir um elemento de surpresa nas histórias), e pouco depois jogava-os online, o que implicava escrever tudo. Fui desafiada a entrar no NaNoWriMo por um amigo quando, durante uma discussão sobre a fantasia nacional, lhe disse que escrever livros era fácil, o difícil era escrevê-los bem. E provei que era verdade (quer o ser fácil escrever, quer a falta de qualidade). Desde então, bom, vivo no Porto com livros a mais, juízo a menos, e a minha constante tendência de não ser capaz de resistir a desafios interessantes, por mais doidos que sejam. Ah, e todos os dias me prometo que amanhã vou voltar ao ginásio. 


 MGL: Escreves, desenhas, dás aulas e estas a aprender japonês, impressionante! Qual é que te dá mais prazer neste momento? 
ACS: Como referi antes, eu adoro desafios. E enfrentar desafios novos é o que acaba por me dar mais prazer, por isso é que acabo por ter tantos hobbies diferentes. E cada um me dá prazer à sua maneira, por isso é difícil escolher um. Nisso sou um bocado cíclica: durante algum tempo só penso em escrita, outras vezes só me apetece ler, ou jogar computador, ou tentar juntar-me aos Illuminati, ou desenhar, ou pintar, ou ver séries de televisão. Recentemente acabei 4 meses intensos de escrita: NaNoWriMo em Novembro, seguido de um jogo online de RPG que acabou em Fevereiro (escrita todos os dias). Estava a planear fazer algo diferente (como ler, só li 3 ou 4 livros nestes últimos dois meses o que para mim é, bom, anormalíssimo), mas tenho um livro para acabar de escrever para uma companhia de jogos indies, por isso estou a dar na escrita outra vez durante os próximos dias. Confesso que ultimamente me tenho sentido fascinada com escultura, e ando a pensar começar por plasticina que é para ver se é só mania temporária ou se devo arriscar a investir mais. 

 MGL: Onde é que podemos ver mais o teu trabalho representado? 
ACS: Depende do trabalho que quiserem ver. No site do NaNoWriMo tenho os resumos e excertos das minhas novelas de ano passado e de à dois anos, no Camp NaNoWriMo também (o meu nome é ACSilva). Tenho a minha galeria do Deviantart (ladyentropy.deviantart.com), que não tem assim grande coisa porque sempre fui um bocado preguiçosa a meter coisas e tinha muito mais entusiasmo quando era miúda e ia para lá postar todos os dias -- agora actualizo muito pouco e como ainda estou a tentar melhorar a minha técnica de pintura tradicional, só tenho postado estudos e esboços (e a capa da Fénix 2, que fui obrigada a fazer sob pressão em dois dias, e que acho que é por isso que saiu melhor que o normal). A própria Fénix 2 é um showcase do meu trabalho: o desenho e pintura da capa são meus, tem um conto (o meu primeiro! Nunca escrevi contos porque nunca achei que tinha jeito para isso), e uma ilustração interior, pintada pela Ana Nunes que pinta muito melhor que eu (a capa, como tem cores esbatidas e o estilo Arte Nova, dá para disfarçar a minha azelhice!). Para coisas inesperadas, fiz arte para o jogo de RPG "Agents of S.W.I.N.G.", um RPG de spy-fi humorístico inspirado pelas séries de espiões dos anos 60 (como Os Vingadores, O Santo, etc.) -- e estou agora a escrever um livro sobre vilões para o jogo. Não me perguntem como é que fui elevada de ilustradora para developer\escritora. Suspeito que é essa a beleza das companhias indies - é-se pau para toda a obra. Como sou extremamente crítica da minha "obra", tenho sempre a noção que nem o meu pior inimigo merece levar com ela em cima, por isso, na maior parte das vezes, mantenho-a escondidinha no meu disco duro e nos meus muitos cadernos. 

 MGL: Conhecemo-nos no NaNoWrimo de 2011, desde aí tens participado regularmente, qual a tua opinião sobre a "utilidade" de escrever intensamente durante um mês, acabando um livro com mais de 50.000? Já publicaste algo que tenhas escrito no NaNoWrimo? Ou conheces? 
ACS: Eu sou grande apologista do NaNoWriMo e dessa loucura que é escrever uma novela em 30 dias, para além do tradicional "convence as pessoas a tentarem" e "é um bom remédio contra o medo" e "o primeiro passo é o que custa mais". Eu acho que mais jovens autores portugueses deviam tentar fazer o NaNoWriMo antes de publicar, porque o nosso país, apesar de ter muita tradição de boa escrita, ainda mostra alguma inexperiência no campo de "literatura como entretenimento descartável". Lê-se pouco, como já se sabe, mas muitos dos mencionados jovens autores que publicam (e ainda mais que queriam publicar ou escrever um livro mas acham que não conseguem) fazem-no com a ideia que escrever um livro é algo que só um grupo de iluminados consegue -- e que ou consegues escrever um livro ou não consegues. E que se conseguiste escrever um livro inteiro, quer dizer que és um dos iluminados e acabou. Na realidade, escrever um livro inteiro é fácil. O problema está em escrever BEM. E quase ninguém escreve bem à primeira. Note-se que não me acho melhor que outras pessoas por ter noção disto - eu era assim também e demorei muito tempo a aceitar que escrever não é alquimia ou artes mágicas. É como qualquer outra arte, como desenhar: tentar, falhar, tentar outra vez, aperfeiçoar, sofrer, dizer palavrões, recomeçar do início. Eu apercebi-me disto exactamente por causa do NaNoWriMo - que o primeiro manuscrito que nos sai das mãos não é o melhor que podemos fazer. É o pior. É o pior mas não faz mal -- é a parte mais importante, o ponto de partida. É como termos encontrado o tecido mais perfeito do mundo -- lindo, mas até ser um vestido deslumbrante vai precisar de MUITO trabalho. Eu tenho contacto com alguns dos autores portugueses que escrevem fantasia urbana, o meu género favorito, e noto que há uma certa tendência em ver livros como filhos, quase: quando saem de ti, são lindos e perfeitinhos, e tirando uma limpeza (de gralhas e gramática), não se mexe mais! Para mim (e o NaNoWriMo meteu-me isso na cabeça), a escrita não é perfeitinha nem bonitinha quando sai da primeira vez - é algo que tem potencial mas vai precisar de muita porrada para ficar "bom". E o NaNoWriMo, com um prazo tão curto prova mesmo isso: não nos iludimos com o que sai à primeira é bom só porque demoramos dois anos a escrever o livro -- temos um mês, e é impossível algo bom (ou pelo menos algo que não possa ser melhorado) sair dali. Nunca publiquei algo que tenha escrito no NaNo, mas quase: o meu conto desta Fénix "O Estranho Caso do Livro Sem Palavras" foi planeado no NaNoWriMo de 2011 (originalmente ia ser para a Fénix nº1) e primeiras 2000 palavras do conto foram escritas também nesse NaNoWriMo (queria chegar às 160.000 palavras nesse mês). Infelizmente, a maior parte dessas palavras acabou por ser cortada na versão final do conto (era uma cena inicial que explorava mais a relação da protagonista e do seu misterioso padrinho). E, curiosamente, o livro em que estou a trabalhar agora foi quase todo escrito na edição de Agosto do Camp NaNoWriMo. Quando a publicar material de NaNoWriMo conheço, sim, muita gente que publicou e até ficou famosa como essas edições -- pessoalmente conheço alguns portugueses, e de "ouvir falar" conheço o caso do "Como Água para Elefantes", que foi adaptado para o cinema recentemente, o "Night Circus" que foi um bestseller ano passado, e muitos outros, todos eles novelas que começaram como projectos de NaNoWriMo. Muitos autores (como a Kim Harrison, Gail Carriger, etc) usam mesmo o NaNoWriMo para escreverem o primeiro manuscrito da sua próxima obra, e depois passam o resto do ano a corrigi-lo. 

 MGL: Queres referir algo que te pareça importante mencionar e deixar aqui algum contacto? 
ACS: Sim. Subornos em forma de livros e\ou chocolate são sempre bem-vindos. Apesar de ser facilmente subornável tenho gostos muito simples (vide os supra-citos livros e\ou chocolates). Se bem que os livros ultimamente andam um bocado puxados, mas não há-de ser nada. Podem ser em inglês. Podem sempre contactar-me via pombo-correio, sinais de fumo ou vasos comunicantes. Ou através do meu email anacladasilva@hotmail.com


@Todas as imagens deste post são da autoria da Ana C. Silva.

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